segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

quando se grita e o coração (já) não faz eco



o momento exacto do
meu desespero
e a beleza do mundo
a escorrer nas paredes
do quarto vazio.
o teu abraço, o meu;
os teus lábios feitos
de carne e poesia
ainda nos meus olhos
e os armários cheios
de recordações que
ficam e se apagam
na intermitência de
viver assim, sobreviver
assim, como se
um sorriso fosse
ainda possível.
como se a tua voz,
o teu silêncio me
procurassem noutros
lábios mas, na verdade,
as tuas palavras
a florescer noutros
lábios, olhos, sexo.
ocupo um espaço
volátil que já não é
meu; onde já não existo.
perceber a morte assim;
escutar o semblante fechado
das aves que caem dentro
do céu; que se perdem,
se encontram;
perduram no voo
um tempo que não fica
e atravessam o oceano
a flutuar sobre a morte;
o cansaço.
o castigo da felicidade
no espaço que ocupas;
no tempo que te ocupa;
é um cigarro apagado
no braço; uma dor
que fica com as estações
e com  as palavras –
quando se aperta o gatilho,
quando o telefone não
toca e os olhos se enchem
de sangue. a bala atravessa o
crânio e fica alojada no coração.
quando se morre não se aprende
devagar.
marca-se no tempo
uma forma de
animal perdido; ferido.
pronto para deitar o
sol sobre a carcaça
que fica sem saber
esperar
a estranha 
amizade da solidão.