quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Métodos de aprendizagem II



na hora de partir
nunca queremos deixar
o silêncio sem um abraço,
as palavras sem um poema
inteiro. 

na hora de partir
recortamos o amor
de dentro do coração;
apertamos os pulsos
vazios com a força
que já não temos
e entregamos os
sorrisos dentro de
um saco de plástico.
assobiamos as músicas
de dentro do peito
como se as expulsássemos;
como se o amor desaparecesse
no som que se dissipa.

mordemos os joelhos
na casa de banho fechada
na esperança vaga
de morrer no vazio
de estar só.
subimos as escadas
à procura de álcool,
ansiolíticos, poemas
rasgados que já não
servem; como as calças
de criança que não
se guardam, sequer,
para recordar. 

na hora de partir
há sempre alguém
a querer ficar
mais um pouco;
a esperar por
um beijo que
já não chega.
que já não sobra
nem por pena;
por piedade;
por mim.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Métodos de aprendizagem I



aprender a morrer mais uma vez,
sufocar no silêncio de ser só
a palavra desfeita, um atropelo
ao sorriso. uma cómoda velha
no meio da sala em modo de auto-
-destruição; os bichos da madeira
a rasgar a carne com a boca
ensanguentada e cheia de
gravilha; de poemas por escrever
nas gavetas vazias. subir as escadas
à procura de tempo. fazer a cama
ainda com as lágrimas que sobram
da noite que passa. os animais
deitados sobre a memória, ainda,
de um incêndio. sortear o corpo
que falta e distribui-lo pelo quarto.
arrumar a roupa espalhada nas
gavetas e sentir o cheiro, ainda,
de um sorriso. suspender o corpo
no lugar do candeeiro
e assumir que a luz,
finalmente, se apaga;
se acende.

a matéria estranha do corpo
inerte balança devagar;
arruma-se na última
gaveta da cómoda.
ninguém saberá.